O novo líder (mais do que) absoluto do MPLA e de Angola, João Manuel Gonçalves Lourenço, acaba de ser consagrado como o novo e exclusivo “senhor disto tudo”, mas de tudo o que o seu discurso encerrou de lugares comuns, ressaltou, na positiva, pela primeira vez, a existência dos pais fundadores do MPLA. “Agradeço aos militantes ter sido eleito”, na realidade, nomeado, o 5.º presidente do MPLA, depois do primeiro, Ilídio Tomé Alves Machado, Mário Pinto de Andrade, Agostinho Neto e José Eduardo dos Santos.
Gesto louvável, que deita por terra, a sabujice de ter sido Agostinho Neto, o primeiro presidente do MPLA, como aliás reza a sua bibliografia.
Outro ponto alto do discurso, foi quando João Lourenço não descartou a possibilidade de na alegada, e até agora folclórica para investidor ver, cruzada contra a corrupção, alguns altos dirigentes do MPLA, não poderem contar com a sua solidariedade, quando forem levados às barras dos tribunais, como exemplos.
Claro que serão os distantes de si e, próximos de Dos Santos, na grelha de partida estarão Manuel Hélder Vieira Dias Kopelipa, Higino Carneiro, general Tchaunda e Manuel Rabelais, dirigentes e oficiais generais que, ao que consta, o novo homem forte de Angola, não morre de amores. Seguir-se-ão Augusto Tomás, José Chimuco, Bartolomeu Dias e mais alguns generais, tais como, Furtado, Paihama, Liberdade e Walter Filipe.
No mais, nada que não fossem lugares comuns, num paradigma atolado num pântano putrefacto há 43 anos e na perspectiva de assim continuar por mais 57. Um século de governo seria obra…
Assim, para nossa desgraça colectiva, a partir das 16h15 do dia 8 de Setembro de 2018 (do Centro de Convenção de Belas, um antigo espaço público, transferido, sem concurso público e pagamento aos cofres do Estado, para a esfera do MPLA), o país, tem um novo “monarca”.
Positivo ou negativo, os ponteiros dispensam o tempo, para julgamento, quando é consabido terem os detentores de muito poder, uma fervorosa apetência para o poder do domínio, dos demais cidadãos.
Independentemente do discurso parecer inovador e da alteração de algumas práticas, nada aponta que a espinha dorsal da corrupção e ladroagem do regime, seja abalada ao ponto de ruírem os pilares. E compreende-se. Se a corrupção e a ladroagem acabarem… acaba também o MPLA.
Esta situação, independentemente das vozes, que rezam em sentido contrário (respeitamos), a verdade é que o MPLA mostrou não ser um grande partido, mas um partido grande, com uma mente pequenina e anti-democrática, cuja vitalidade só é possível face ao escancarar dos cofres públicos, como princípio de manutenção do poder.
Ser um partido normal, como os outros, com um presidente normal, que não beneficiasse, exclusivamente, por ser ao mesmo tempo Presidente da República, não faz parte do seu DNA. Eles tem temor (pânico, mesmo), por consciência das más políticas governativas, que geraram mais de 20 milhões de pobres e outros tantos discriminados e excluídos das estatísticas de cidadania de, sem o controlo da Comissão Nacional Eleitoral – CNE, a fraude ficar difícil, ou até impossível.
Tal como, sem o bónus das empresas públicas, dos bancos comerciais e do Banco Nacional, a campanha eleitoral, não ter capacidade financeira para corrupção de agentes eleitorais, juízes e cidadãos.
Por tudo isso, uma grande maioria de angolanos, ansiosos de a transição poder gerar uma nova aurora, está cada vez mais decepcionada, por em 12 meses o programa de governo não passar de discursos, exonerações e foscas nomeações, tudo na lógica partidocrata de que “o MPLA é Angola e Angola é o MPLA”, daí o vaticínio antecipado de vitória absoluta, feita por João Lourenço, no 08.09.18, na maioria das autarquias, que se realizarão, talvez em 2020 ou 2022 e, nessa altura, disse o líder do MPLA, apenas algumas serão ganhas para a oposição, talvez no sentido de branquear a pseudo-democracia, perante o mundo.
É uma premonição excitante de vitória, sejam graduais ou gerais, pois com o MPLA é assim: fica com o bolo todo e distribui as migalhas para os outros.
Seguiu-se à boa moda absolutista, não a eleição, seria o desejável, num partido democrático, mas a indicação pessoal de um vice-presidente (Luísa Damião) e secretário-geral (Boavida Neto), figuras mais ou menos politicamente opacas (não vá o Diabo tecê-las). Quanto ao essencial, tudo vai voltar, salvo a propaganda, aos mesmos carris.
Luísa Damião, jornalista da Angop, sem nenhum desempenho relevante nas estruturas partidárias, salvo a humildade, para com os seus. Diferente, para com os outros, será Álvaro Boavida Neto, cujos consulados como governador provincial foram bastante contestados.
João Lourenço, depois de um ano, não esgrimiu nenhum programa consistente, para iluminar caminhos, abrir perspectivas nos homens de negócios e trabalhadores, para vencer a crise económica, social e política em que o país está mergulhado.
A fórmula proposta de entregar as grandes empresas públicas ao sector privado, demonstra que o MPLA depois de 43 anos a andar na fisioterapia, não aprendeu a caminhar sem as muletas governamentais. Nem sequer tanta. Quer andar de paliativos em paliativos, até o paliativo final de derrota.
Poderia emprestar maior seriedade se ousasse eleger um presidente que se ocupasse exclusivamente das tarefas do partido, fazendo a partir do Parlamento uma verdadeira oposição construtiva aos desvios governamentais, sem se afastar da responsabilidade de partido que sustenta o Titular do Poder Executivo, mas tendo a missão de fiscalizar melhor o seu desempenho e dos auxiliares, em benefício de Angola e dos angolanos.
Mas o que deram em troca, aos angolanos, nesta transição, 38 anos depois, de um poder absoluto de José Eduardo dos Santos, senão uma bandeja de outro poder absoluto a João Lourenço, com o elixir para domar tudo e todos no MPLA e no governo? Nada!
O partido no poder, tivesse intelectuais e dirigentes comprometidos com a democracia, optaria pela sua verdadeira libertação e não continuar atrelado ao Estado. Uma eleição em “democracia” onde os militantes concentram 98,58% de votos, num candidato já previamente eleito, demonstra cinismo na contabilidade, pois a cifra real é de vitória esmagadora de 115%.
Não tendo sido assim, algumas toupeiras vão saltar do buraco, pois um partido onde desde o terceiro presidente (Agostinho Neto/1975) está habituado a concentrar todos os poderes do Estado; Legislativo; Executivo e Judicial, com base na Constituição atípica e num “assassino Acórdão” do Tribunal Constitucional, que proíbe a Assembleia Nacional de “legitimamente” poder questionar o Titular do Poder Executivo e seus adjuntos, não se pode compadecer com falta de fidelidades caninas.